Meu irmão Daniel deu entrada na UTI no dia 07 de maio de 2011 com suspeita de Influenza H1N1. No dia 08, foi entubado. Seus pulmões estavam infectados em quase sua totalidade e foi feito um tratamento intensivo que começou a debelar a infecção, mas afetou os rins, em função de uma nefrite que ele teve no passado. Passou uns dias fazendo hemodiálise, seu quadro foi melhorando, mas no dia 19, uma surpresa desagradável aconteceu: um aneurisma rompeu e teve hemorragia galopante no cérebro. Ele estava no Hospital São Marcos e foi transferido para o Português, pois lá há melhores condições para se cuidar de algo tão delicado. Na mesma tarde, soubemos pelo médico que ele começou a entrar em processo de morte cerebral, o que nos deixou deveras transtornados.
No dia 22, foi confirmada sua morte cerebral e fomos chamados por um médico à UTI, a fim de consultar-nos se deveria ou não desligar os aparelhos. Eu, minha mulher e minha mãe optamos pelo desligamento. Minha irmã, meu pai, minha cunhada e a maioria dos parentes presentes, não. Respeitamo-nos e seguimos com nosso sofrimento.
No dia 23, meus pais e minha irmã concluíram que o melhor seria o desligamento, mas minha cunhada manteve sua opinião, por razões próprias. Eu e minha mulher tentamos convencê-la que a melhor decisão seria pôr um fim nesse martírio, mas por questões religiosas, ela se manteve irredutível. A partir daí, vivi uma experiência interessante e faço questão de registrá-la:
Antes de falar com minha cunhada, passei num estabelecimento comercial que vende eletrodomésticos e enquanto olhava algumas mercadorias, ouvi o seguinte comentário de uma das vendedoras: Hum! Que cheiro de rosas! Depois disso fui encontrar com minha esposa e no trajeto, comecei a me sentir estranho. Uma pressão na nuca começou a me incomodar e minhas mãos gelaram. Reencontramo-nos, conversamos com a esposa do meu irmão por telefone, e ao concluirmos a discussão, a pressão intensificou e ouvi claramente a voz dele a me dizer: Confie em mim. Faça o que eu pedir. Vá ao hospital agora. Preciso falar com as pessoas.
Disse a minha companheira que iria ao hospital. Minha cunhada e meus pais estavam a caminho do mesmo e a necessidade dele de se comunicar com eles passou a ser minha condutora nesse processo insólito. Senti-me tomado por meu irmão e em minha mente, ouvia sua voz me comandando: passe numa papelaria, compre papel – e eu o fiz; pegue um táxi e vá para o Português. Com quem eu quero falar, estará na capela. Instantes depois, minha cunhada me ligou e disse: Cunhado, estamos na capela.
Cheguei ao meu destino e lá estavam meus pais – minha mãe estava numa espécie de transe – minha cunhada, um tio e um primo. Pedi que nos déssemos as mãos e lhes perguntei se confiavam em mim. Atestaram positivamente. Questionei à mulher de Dan se ela acreditava em minha mediunidade. Resposta afirmativa. Então rezamos o Pai-Nosso e me sentei num dos bancos da capela. A partir daquele momento, a energia de Dan concluiu seu processo de acoplamento em meu sistema nervoso e eu psicografei o seguinte texto:
Meu Testamento
(Infelizmente não postarei aqui as mensagens que Daniel endereçou a cada pessoa em particular, pois todas possuem conteúdo que pertence só a ele e a elas. Posso porém dizer que tal Testamento, como ele mesmo entitulou, se trata de pedidos e concessões de perdão, juras de amor, impropérios deliciosos e o mais puro amor e amizade que esse cabra sente por todos nós. Mencionarei apenas o que ele mandou dizer a mim e mensagens que determinaram o desfecho da sua vida material):
...
Ti Tom,vá se fuder! Obrigado por ouvir o meu chamado.
Toda minha família, eu não seria nada sem vocês.
Todos meus amigos, a gente se encontra no bar.
Peço perdão a todos por minha partida presente – não é prematura – chegou minha hora. Não há mais tempo para provas, sacrifícios e expiações.
O amor e o perdão nortearão nossas vidas. Eu quero que a família se una! Eu quero que os amigos se unam. Eu quero que todos se unam além de tudo o que está acontecendo.
Quando a dor passar, fiquem juntos. O grande exercício e lição que eu deixo é que ninguém sabe a hora da viagem. Então tratem-se com amizade e respeito, como se fossem morrer hoje.
O grande exercício é o desprendimento da matéria. Eu peço que desliguem os aparelhos.Me deixem ir em paz. Não suporto nadar nesse tanque. Eu quero o oceano.
Adeus!
Adeus, uma porra!
Luiz Daniel, 23/05/2011
O original dessa mensagem ficará com minha mãe.
***
Depois que sai do transe, minha mãe me contou haver vivenciado alguns sintomas no físico idênticos aos que me acometeram. E estávamos em locais diferentes. Também ela, minha cunhada e meu pai sentiram cheiro de rosas no interior do carro, quando iam para o hospital.
À noite, quando li a mensagem do meu irmão para minha irmã, meu cunhado, minha esposa e um grande amigo, mais uma vez o cheiro de rosas se fez presente, de forma ostensiva, e foi sentido por todos nós.
Sentir meu irmão vivo em mim ratifica mais ainda a certeza de que a morte inexiste. Minha parte eu fiz e minha consciência está tranquila. Cada um fará da mensagem o que bem entender e certamente assumirá as consequências dos seus pensamentos e atos. Viva Daniel!
Acompanhei diretamente a leitura junto a Tony, Cizete, Jamile e Beto, tive sensações e pairava no momento um aroma agradável. Confesso que tive poucas experiências como estas. Sei que esse espírito quando despertar com certeza terá assim como está tendo uma grande acolhida no mundo espiritual que é a nossa morada real.
ResponderExcluirMeu amando Mel, valeu.
ResponderExcluirTony, deve ter sido uma experiencia maravilhosa, assim eu creio, e esse rapaz, o Dan, deve ter ido numa grande paz principalmente sabendo do tamanho do amor que tiveram por ele.
ResponderExcluirE sempre doloroso perder alguem, mas ficar num hospital ver um ser querido vivendo num hospital atraves de aparelhos e muito doloroso. Deixar partir foi o melhor.
Peco a Deus que interfira na dor de todos os que conheceram este rapaz e de a eles a Paz que merecem, principalmente a Mae dele, pois filho cuando se perde nada o substitue.
Paz no corocao de todos.
Muito obrigado pela força, Cubana. Transmitirei aos meus pais seus sentimentos. Saudades... Cisete manda beijos.
ResponderExcluirBoa noite, Antônio,
ResponderExcluirNem te conheço, mas por um blog de um grande amigo cheguei aqui e lhe digo (não estou impressionada!): ESTOU COMPLETAMENTE ARREPIADA.
Sim, os ensinamentos espíritas me chegaram há poucos 6 anos e, definitivamente, pela primeira vez na vida, consegui estacionar minha alma em alguma doutrina.
Ainda possuo questionamentos e inquietações, mas para mim é indubitável a concepção de que "a morte inexiste". E mais do que isso, cada um tem mesmo seu papel aqui neste plano.
Que seu texto não seja apenas um alento, uma forma de expressão com o mundo, mas cócegas singelas naqueles que custam a acreditar na vida eterna.
Parafraseando meu grande amigo: "Muita paz!"
Abraço,
Marina
Marina, é um prazer conhecê-la ou reencontrá-la. Como nada é por acaso,não foi à toa que a "Rede" fez com que nos encontrássemos. Meu carinho e minha gratidão a você. Caminhemos,Irmã. Muita Paz pra você também... A gente se vê. Se quiser me seguir,fique à vontade.
ResponderExcluirPara homenagear meu Dida, por inspiração de minha irmã, criei o blog "O Presente de Enzo" que traz histórias engraçadas e comoventes sobre ele. O objetivo e publicar um livro que será o nosso presente para "O Herdeiro". Dê uma olhada. Beijo e Luz!