quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Sete Ciganos - 3

Sofia resolve ir à feira livre. Por onde passa, chama a atenção das mulheres e encanta os homens. Chega a uma barraca onde vê belas maçãs e pára.

- Bom dia, senhora! – Cumprimenta-a um preto velho sorridente.

- Bom dia, senhor! Bonitas maçãs. Quanto custam?

- R$ 0,80, cada.

- Quero cinco.

- A senhora pode escolher.

Ele lhe dá uma cestinha, ela seleciona as maçãs e lhas entrega para que ele as coloque num saco. Ele o faz, recebe o pagamento e entrega a mercadoria.

- Como é o nome do senhor?

- Joventino e o seu?

- Sofia.

- Prazer, dona Sofia – apertam-se as mãos. – É a primeira vez que vem aqui na cidade?

- Sim e estou gostando muito.

- E não é arriscado uma moça bonita como a senhora andar por aí sozinha?

- E quem disse ao senhor que ando só...

- Bem verdade. A senhora é bem acompanhada por gente que não consigo ver com esses olhos.

- O senhor é um homem sábio.

- A vida é minha escola.

- É. Mora muito tempo aqui?

- Nasci aqui. Sou bisneto de um dos primeiros escravos que aqui em chegaram. Segundo meu bisavô, Sebastião dos Santos, em 1808 saiu uma bandeira lá de Nazaré das Farinhas, chefiada por um português chamado Manoel Rovisco. Esse homem queria abrir uma estrada de ponta a ponta até Vitória da Conquista, mas terminou gostando daqui e por aqui foi ficando. Como a seca devastava o Nordeste, muitos retirantes iam passando por aqui e também iam se estabelecendo e o lugar foi crescendo. Em 1880, criaram o distrito de Brejões. Anos depois, Rovisco vendeu as terras dele para um Manoel Vitorino e um Joaquim Dias que trouxeram a negrada para cá. Meu bisavô estava no meio. Depois da abolição, meu bisavô Sebastião casou com minha bisavó Justina e tiveram dez filhos. Minha avó Bernarda, filha deles, casou com meu avô Francisco e tiveram cinco filhos. Sebastiana, minha mãe e filha deles, conheceu Tomé, meu pai, e os dois juntaram os trapos. Tiveram quatro filhos e eu sou o mais velho.

- Que interessante, Seu Joventino! É um prazer conhece-lo.

- Idem, dona Sofia, e conte comigo no que precisar.

- Obrigada, até breve!

- Até!

Ela se vai e ele fica olhando-a pensativo:Ai, Meu Deus, será que é ela?


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