sábado, 19 de fevereiro de 2011

Sete Ciganos - 38

CAPÍTULO 3 – PEDRO

Santo Antônio de Jesus

Horas depois, o casal chega à Terra das Palmeiras. Sofia olha tudo atentamente e o marido a observa:

- Gostou?

- Gostei. Você já conhecia aqui?

- Já.

- Onde ficaremos.

- Como temos dinheiro para algum tempo, vamos nos hospedar no Hotel Pirâmide, na Praça Padre Mateus. Você vai gostar de lá.

Eles chegam à praça, um lugar bem central da cidade cheio de árvores, bares, lanchonetes e cercado de casas comerciais, bancos, pela Igreja Matriz, pelo Antonius Imperial Hotel, por táxis, etc. estacionam em frente ao Hotel Pirâmide e saltam. Abaixo do hotel, fica o Restaurante Lua Nova e Sofia gosta do seu aspecto;

- Tem um movimento de intenso crescimento aqui – comenta a cigana.

- Isso aqui é um chamariz para pessoas empreendedoras.

- Ainda que existam mentalidades tacanhas.

- Como em todo lugar.

Hospedam-se e tiram a manhã para fazer amor e descansarem.

Às 13h00, vão almoçar no Lua Nova:

- Comida deliciosa, querido!

- Mais gostosa é você!

- Você também.

- Como encontraremos o cigano Pedro?

- Boa pergunta, mas não é motivo de preocupação. Não é difícil se encontrar um cigano quando ele espera ser achado.

- Ele já deve saber que chegamos.

- De acordo com o meu sonho e com aquelas informações que recebi em Brejões, a próxima será a loira e a cidade será Nazaré; depois o metido... Deve ser uma figura e vamos achá-lo em Santo Amaro; em seguida, vem a velha Zenaide, que estará em Cachoeira e por fim...

- Aquele ciganinho bonito que sempre me faz rir quando sonho com todos nós... Vamos encontrá-lo em Feira de Santana.

- Por que essas cidades? Por que esse encontro? E o Cruzeiro do Sul, que ligação tem conosco?

- Minha tia-avó Luzia, que criou minha mãe e era mãe do meu pai, era uma excelente contadora de histórias do nosso povo. Ela era uma grande feiticeira também e quando fiz sete anos de idade, presenteou-me com a adaga que carrego até hoje, levou-me a um lugar perto de um rio, sentamo-nos nas pedras e ela me disse:

“Vou lhe contar uma história, Shalom, e quero que preste bem atenção, porque ela é a chave para o seu destino.

Era uma vez sete anjos que viviam na constelação do Cruzeiro do Sul. Eles tinham uma vida agradável e paradisíaca; não se afligiam nem se preocupavam com nada e eram felizes. Dentre eles tinha um mais inquieto, que sempre falava com os outros da necessidade de expandirem seus conhecimentos, descobrirem outros lugares e não ficarem restritos à constelação. Os outros, porém, ignoravam as idéias dele.

Um dia esse anjo ficou tão inquieto que resolveu deixar aquela dimensão e começou a vagar pelo espaço em busca de novos contatos e seres a fim de ampliar seus laços de amizade. Viu ao longe uma imensa bola azul e se interessou por aquele lugar: era a nossa casa, a Terra. Ele desceu aqui e conheceu grandes belezas e tristezas, conheceu a humanidade, os seres, a natureza e apesar de ter visto algumas coisas sombrias, gostou daqui e quis viver aqui, mas não poderia ser como anjo, e sim como gente.

Ele retornou ao Cruzeiro e falou a todos sobre a Terra. Aqueles venceram o comodismo e foram com ele visitar o lugar, e como ele, adoraram e quiseram também viver experiências aqui, já que perceberam que era um local especial onde teriam muito a aprender.

O anjo lhes falou que seria necessário, porém, eles abdicarem de sua aparência angélica a fim de assumirem a aparência humana e deveriam nascer como humanos através do processo natural da reprodução da nossa espécie. Quanto à essência, não deveriam se preocupar, pois a mesma dos anjos era a dos homens, embora alguns homens houvessem disso esquecido. Todos concordaram e retornaram à Constelação.

Chegando lá, conversaram com o Conselho Estelar e revelaram seu intento, que foi aprovado por unanimidade, desde que cada um avaliasse bem em que lar gostaria de ficar, em que povo, em que país que mais se adequasse à essência deles.

Todos saíram em busca dessas informações, observaram várias culturas, vários povos, vários países e costumes, até que um deles disse que se afeiçoou muito do povo cigano, em especial de um país chamado Brasil, porque tinha muito a ver com a tônica deles. Todos concordaram com o irmão e escolheram suas respectivas famílias ciganas, mas não poderiam vir todos de uma vez, pois cada casal que os iria gerar teria o seu tempo e sua história de paixão e fecundação.

Outro motivo que fez com que eles escolhessem nosso povo foi o fato de perceberem que embora vivêssemos soltos pelo mundo, tínhamos uma identidade, um elo invisível que nos unia sem nos prender.

Feitos todos os ajustes, num dia, o primeiro anjo, percebendo que seus futuros pais viviam um ardente momento de amor, deixou a Constelação e se tornou um zigoto que dali a nove meses, segundo o tempo da Terra, viria a ser uma linda criança. Sete anos depois, o que equivalem a sete dias nas estrelas, desceu outro anjo e assim sucessivamente.

Cada um veio como cigano. Cada um com sua história, com sua dor e sua alegria. Cada um com seu poder, com sua força e magia. Cada um a fim de aprender mais sobre a vida, de aprender como amar e ser amado nessa maravilhosa aventura de ser gente. Cada um nasceu num contexto, num tempo e numa realidade diferente. E em meio a tantas riquezas e diversidades que o planeta oferecia, deveriam aprender, sobretudo, a serem seres polarizados, ou seja, harmonizados com todas as forças, e não dualizados, a saber, extremistas com relação a isso ou aquilo.

Sabiam também que todos teriam um tempo aqui e que em determinado momento, se reencontrariam e quando todos estivessem reunidos novamente, seria o momento de retornarem às estrelas e partilharem seus ensinamentos com os que lá ficaram ou até expandi-los por outras constelações.

Em cidades sagradas, eles haveriam de se encontrar e sagradas elas seriam porque cada uma teria um acesso secreto ao Centro do Planeta, que é um imenso Cristal de Ferro, que contém a história de tudo isso aqui, desde o início.”

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