segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Sete Ciganos - 46



Shalom e Adriane carregam Pedro e o colocam no fundo do Pampa dele. Morvan e Sofia carregam Márcio e fazem o mesmo. Gilberto e Suelen cobrem os dois com uma lona.
Morgan, Suelen e Adriane entram no Corsa azul desta:
- Vamos na frente e vocês nos acompanham – diz a motorista.
- Certo – diz Gilberto, assumindo a direção do carro de Pedro.
Sofia e Shalom se acomodam na frente e os dois autos partem do local do combate.
Chegando à casa de Márcio os seis se deparam com Indiara, Indira e Negro no portão.
- Estávamos à sua espera. Não há tempo a perder – fala Indiara.
- Quem são essas? – Pergunta Suelen.
- São amigas – Responde Sofia.
- E como sabem do que aconteceu?! – Pergunta Adriane desconfiada – Vocês ligaram para elas?
- Não – responde Indira. – Como não pertencemos mais a esse mundo, sabemos mais rápido dos acontecimentos.
- Vocês são... Mortas?! – Indaga Morgan.
- Somos vivas, mas digamos que dois “fantasminhas camaradas” dispostos a ajudar dois grandes feiticeiros após uma grande batalha.
Gilberto as olha encantado e Sofia cochicha em seu ouvido:
- É a mulher e a filha de Pedro.
- Apressem-se! – alerta Indiara – Ainda podemos impedir que eles morram.
Os dois enfermos são retirados do fundo da Pampa e levados para o interior da casa de Márcio.
Na sala principal de aspecto funesto, Indiara começa a dar as orientações:
- Tirem essa mesa daqui do centro, estendam a lona no chão e deitem os dois. Temos pouco tempo.
O que foi orientado é cumprido. Negro fareja Márcio e Pedro.
- Agora acendam duas velas brancas, uma para Márcio; outra para Pedro. As chamas delas manterão suas almas aqui com maior segurança.
Adriane pega as duas velas, dá uma a Sofia e ambas fazem o que foi dito pela filha de Pedro.
- Agora precisamos de dois baldes com água limpa – fala Indiara.
Morvan chama Gilberto e os dois vão buscar os baldes com água. Negro deita sob a mesa e observa o movimento. Instantes depois, eles voltam com o que foi pedido.
- Agora é com você, cigano – Indira fala com Gilberto. – A única forma de apressarmos a cicatrização dessas feridas mágicas á através de água benta. Esse é o principal motivo de você estar aqui, padre.
Todos olham para o padre-cigano e ele, com humildade e poder, impõe suas mãos sobre as águas e as consagra.
- Tire sua camisa, padre – ordena Indiara – embeba-a num balde e passe no corpo de Pedro. Faça o mesmo com Márcio, Adriane.
Da cabeça aos pés, lenta e carinhosamente, o padre e a feiticeira vão fazendo o ritual de cura nos respectivos pacientes.
- Serão necessários sete dias de aplicação da água benta neles dois. Sempre deverão fazê-lo quando o sol nascer e quando o sol se puser – recomenda Indira.
- Agora, façam um círculo em volta deles – pede Indiara. – Como estão todos no mesmo barco, quero que façam assim: Shalom dá a mão a Suelem, que dá a mão a Gilberto, que dá a mão a Adriane, que dá a mão a Morvan e que dá a mão a Sofia, que fecha o círculo com Shalom. – eles acatam o direcionamento – Agora pensem com todo seu amor e amizade na recuperação de ambos. Enviem uma quantidade de sua energia vital para eles. Só poderemos salvá-los se forem os dois juntos. O sangue de cada um se fundiu num só. Agora são irmãos e a vida de um depende da do outro.
Todos fazem um Círculo de Força em volta dos dois e cada um doa um pouco da sua energia vital para ambos.
Lentamente Pedro e Márcio começam a manifestar sinais de vida, mas permanecem desacordados.
- Ótimo! – Fala Indira – Embora ainda estejam fracos e não tenham condição de acordar, estão fora de perigo. Vocês fizeram um excelente trabalho.
Todos comemoram como velhos amigos.
- Agora temos que ir. Caberá a vocês, como uma comunidade, cuidar deles e lembrem-se: a vida de um depende da do outro – fala Indiara.
A porta se abre e ambas se vão, Negro corre atrás delas e fica perplexo quando elas desaparecem antes de chegar ao portão.
Enquanto os bruxos dormem, os outros vão se interagindo, trocando conhecimentos, experiências e trivialidades.
Suelen decide fazer uma arrumação na casa e Adriane e Morgan concordam em ajudá-la. Gilberto se incorpora à equipe, depois Shalom e Sofia também aderem.
Mais tarde, Suelen prepara o almoço e todos comem como velhos amigos.
No fim da tarde, Shalom faz o tratamento com água benta em Pedro e Suelen, em Márcio.
Á noite, os seis acendem uma fogueira, do lado de fora e ficam a conversar e a curtir o frescor daquele momento. Negro fica a maior parte do tempo, próximo aos dois bruxos.
No dia seguinte, com o nascer do sol, Sofia faz o tratamento em Márcio e Morgan, em Pedro.
Shalom vai à casa de Olga:
- E aí, cigano, como ele está?! – Pergunta aflita.
- Ainda não acordou, mas não corre mais perigo de vida.
- E o outro?
- Márcio está na mesma.
- Pensei até em ir lá, mas não tive coragem. Ainda é muito estranho saber que vocês estão lá na casa do inimigo, com os amigos dele.
- Tivemos que unir nossas forças, Olga, e a experiência está sendo muito boa. Márcio está pagando caro por seus desmandos e provavelmente venha a se tornar uma pessoa melhor quando tudo estiver passado.
- E Pedro? Ele não merecia ficar entre a vida e a morte.
- Ele sabia que isso iria acontecer. Ele quis correr o risco. Toda essa história tem me ensinado muito e o mais importante é que percebo o quanto é melhor buscarmos a harmonia do que a desarmonia com as pessoas. Penso que estamos aqui para cooperarmos uns com os outros e o grande desafio não é apenas vivermos em paz com quem amamos, e nos ama, mas justamente com pessoas que temos dificuldade em amar.
- Talvez você tenha razão. Vou pensar a respeito.
Após o tratamento do pôr-do-sol, Pedro e Márcio começam a se mover lentamente. Os demais estão na cozinha, tomando sopa e Negro observa os dois atentamente:
Márcio e Pedro abrem os olhos e se encaram sonolentos:
- Você até que é muito forte para um velho – diz-lhe Márcio em tom amistoso.
- Você até que é muito poderoso para um jovem – fala Pedro bocejando.
Negro fareja os dois.
Márcio tenta se mover, mas sente dores no corpo. Ambos estão cobertos com lençóis finos e brancos.
- Por pouco não me matou, Mestre Pedro.
- Por pouco não nos matamos, Mestre Márcio.
- Eu já dava a luta como vencida.
- Foi o seu erro e o nosso acerto.
- Por que sugou meu sangue?
- Era a única forma de fundir nossas essências e poder lhe ensinar uma forma mais digna de fazer magia. Tive um grande mestre que também fez assim comigo, quando eu era jovem. Não tive outra escolha senão aprender com ele e acredite, foi a melhor coisa que eu fiz e meu compromisso foi durante minha vida, fazer o mesmo por um grande mago que eu pudesse encontrar na minha trajetória e que estivesse, como eu na época, obnublado apenas pelo lado trevoso. Agora é você quem terá a missão de perpetuar o encantamento.
- Mas você nem sabe se vou concordar em me tornar um mago decente...
- Só se você fosse um cara burro, não se tornaria e isso eu sei que você não é. Depois de viver o que você viveu, nunca mais será o mesmo.
- É verdade. Sinto-me mais leve. Melhor... Mas nem pense que vou virar santo.
- E quem disse que eu virei um? A magia é uma só. Não há branca nem negra. O que difere um mago completo de um medíocre é que este se vê dualizado entre o bem e o mal e aquele integra todas as forças e as equilibra.
- Realmente você não tem nada de santo, Mestre Pedro. Aquela Besta que você se tornou era pra lá de diabólica.
- O momento não pedia asas, auréola e harpa.
Márcio ri.
- É um prazer conhecê-lo, meu nome é Márcio – o jovem lhe estende a mão e ele a aperta afetuosamente.
- O prazer também é meu. Chamo-me Pedro.

2 comentários:

  1. VOCÊ É O EXTREMO! Uma hora é anti-clerical; noutra usa o poder do clérigo para salvar duas vidas...
    Muito interessante a ligação de Márcio e Pedro através do sangue. Onde aprendeu isso, hermanito?

    ResponderExcluir
  2. KKKKKKKKK!!! Você ama me analisar, não é?
    Quanto a esses babados sanguinários, aprendi no meu imaginário - minha maior fonte.

    ResponderExcluir