Mais tarde, já no quarto, Shalom recebe o telefonema de Patrício e como ele e Marcos vão de ônibus para o Terminal Marítimo de Bom Despacho, combinam para pegar o mesmo Ferry.
Pedro repousa na quietude da sua barraca e pensa em tudo o que viveu em Santo Antônio. Pensa com carinho em Márcio e roga a Santa Sara Kali que o proteja.
Shalom e Sofia fazem amor.
E a quarta cigana, onde estará?
No dia seguinte, os amigos se encontram na embarcação e fazem festa:
- Que bom revê-los! – Diz Sofia, abraçando Patrício e Marcos.
- Bom demais – fala Patrício. – Tudo pelo nosso artista e você, cigano Shalom?
- Feliz, meu amigo. Feliz por estarmos juntos de novo – Shalom abraça Patrício e Marcos – Cantando e encantando muito, Marcos?
- Com certeza, cigano.
- Meninos, este é o cigano Pedro.
- Muito prazer, seus putos – fala Pedro arrancando gargalhadas de todos.
O velho abraça os novos amigos e o apito anuncia a saída da embarcação.
Durante a viagem, os ciganos contam suas aventuras aos amigos e eles partilham sobre sua vida nova:
- Embora saibamos que numa cidade do interior muitos condenem nossa opção sexual e o fato de morarmos juntos, de estarmos casados – fala Patrício – não sofremos discriminação ostensiva. Se há, e com certeza há, é muito velada e sutil. Pensei que seria mais difícil viver essa experiência.
- É que vocês são íntegros – opina Pedro. – E por maior que ainda seja o preconceito das pessoas contra o homossexualismo, devido à ignorância, a integridade se sobressai diante da mediocridade social e aí, é mais fácil encarar. Agora, graças e Bel-Karrano, as coisas estão mais fáceis e a cabeça do povo parece estar melhor.
- Como é isso para os ciganos? – Pergunta Marcos.
- É relativo, meu jovem – responde Pedro. – Assim como há gajões mais esclarecidos e menos esclarecidos, há também ciganos. Quando vivi com os índios, percebi uma abertura maior para isso. Um homem com a alma feminina ou uma mulher com alma masculina são considerados sagrados. Seres especiais que merecem respeito e reverência. Com a contaminação cultural das tribos com os civilizados, é certo que houve a instauração de preconceitos e bobagens morais, mas penso que no bojo, a coisa se mantém. Querem saber? Vou soltar um peido em homenagem aos preconceituosos.
Pedro solta um flato retumbante que faz os outros rirem.
Em Salvador, a embarcação atraca e todos vão no carro de Shalom.
No Terminal Marítimo de São Joaquim, eles se encontram com Tânia, Aristides e Romeu e a alegria da amizade é revivenciada:
- Como está bonita, minha amiga! – Sofia elogia Tânia que está bem diferente daquela que conheceu em Amargosa.
- É o amor – Tânia brinca e abraça Sofia.
- Grande Romeu! – Cumprimenta-o Shalom.
- Grande Gitano! – Romeu abraça o cigano.
Patrício e Aristides se saúdam afetuosamente. Aquele lhe apresenta Marcos e Sofia abraça Romeu com emoção:
- Como você está lindo!
- E você, continua com asas.
Os demais se cumprimentam.
- Gente – fala Shalom – este é Pedro, o cigano.
Romeu olha-o nos olhos:
- Você é mais bonito pessoalmente.
- Você também, seu feiticeiro. Vem cá me dá um abraço.
Ambos se abraçam como velhos conhecidos e depois Aristides, Tânia e Romeu vão no carro daquele e os visitantes os seguem, no de Shalom.
Hospedam-se na linda casa da família e se sentem muito bem:
- E a vida, Tânia? – Pergunta-lhe Sofia. Ambas estão caminhando pelo jardim.
- Está ótima, minha amiga. Aristides é um homem bom para nós, um marido excelente para mim. Demos uma guinada fantástica e devo muito a vocês.
- Que conversa feia! Deve nada, mulher. Você que conquistou sua felicidade.
- Ele e Romeu se dão muito bem. Têm praticamente as mesmas paixões, os mesmos interesses e isso me deixa muito feliz. Fale-me de você.
- Continuo na trilha com Shalom e agora com Pedro, que é um grande amigo. Estamos em Nazaré à procura da cigana loira.
- Seria tão bom se vocês vivessem aqui em Salvador. Sinto sua falta, amiga.
- Mas sabe que minha casa é a estrada.
- Sei e entendo, mas seria melhor se fosse diferente. Amo vocês como são e do jeito que vivem e sei que não é a distância que afastará nossas almas.
Á tarde, todos vão ao Vernissage de Romeu e dos colegas, e tudo acontece de forma descontraída e requintada. Shalom, Sofia, Patrício, Marcos e Pedro acompanham os movimentos do novo gênio.
Todas as obras são belas e os artistas, cheios de talento e brilho. Aristides, cheio de orgulho, apresenta Romeu às pessoas como seu filho e Tânia se sente realizada através do rebento.
Emocionada com o destino de Romeu! Quando pensei que não veria mais o nosso artista, você o traz de volta. Muito obrigada, amigo. Romeu me cativou muito nessa aventura.
ResponderExcluirTambém gosto muito de Romeu. Ele é doce e carismático.
ResponderExcluir