Os ciganos se despedem e vão almoçar no Frutos do Mar:
- Sabe o que viemos fazer aqui, Antonio? – Pergunta-lhe Sofia.
- Sei. Sempre sonhei com vocês e sempre soube que nos encontraríamos um dia.
- Está pronto para ir conosco?
- Sim, Sofia. Sempre estive. Embora a vida, as mulheres, os negócios sempre tenham sido uma constante em minha jornada, nunca perdi meu objetivo principal de vista. Ainda faltam a velha e o menino não é?
- Faltam sim. Depois daqui, nosso destino será Cachoeira e por fim, Feira de Santana.
- E aí? – Pergunta Antonio.
- Ninguém sabe – responde Shalom. – Talvez o menino tenha a resposta. Sinto que ele é o nosso condutor.
- O guri?!- Antonio gargalha – O que um ciganinho pode saber da vida para nos guiar não sei para onde?
- Só Bel-Karrano sabe, cigano – fala Sâmia. – Vamos esperar para ver.
- Conte-nos sua história, Antonio.
- Nasci no Rio de Janeiro há 42 anos atrás. Sei que minha mãe teve um parto difícil e só não morremos porque uma cigana que estava de passagem com o bando dela e era parteira nos ajudaram. Nasci enrolado com o cordão umbilical e segundo minha mãe, a cigana, ao me ver, deu uma gargalhada e disse que eu ia ser um homem de sorte nas finanças e valente como um touro. Nunca mais na vida vi a parteira e nem foto eu tenho dela, mas sei que um dia a encontrarei e lhe agradecerei por ter me salvado a vida. Meus pais eram portugueses e com meu pai, o cigano Joaquim, aprendi a arte da negociação. Com minha mãe, cigana Alba, aprendi alguns feitiços, principalmente voltados para me manter sempre próspero ou pelo menos equilibrado em tempo de agouro. Aprendi com ela que a Roda da Fortuna nunca pára no fracasso nem no sucesso, mas que o ponto mais alto dela marca o início da queda e o mais baixo, o começo da escalada.
“Íamos fazer uma viagem à noite e minha mãe teve um sonho que foi um mau presságio. Meu pai era um pouco cético e ignorou o aviso da minha mãe e aí não deu outra, veio um caminhão doido em nossa direção e batemos. Meus pais iam à frente e morreram. Eu ia atrás e Bel-Karrano não quis me levar.
“Aí meus tios me adotaram e eu me fiz homem. Nunca quis me casar e passei a viajar negociando ouro e prata. Não é uma história mui grandiosa, mas é a minha história.”
- Onde aprendeu a atirar tão bem tua adaga, homem? – Pergunta-lhe Shalom.
- Quando nasci, minha mãe ungiu minhas duas mãos com azeite de oliva e olíbano e ungiu a adaga de meu avô, seu pai, que já era morto, pedindo a Bel-Karrano que me desse a melhor mira, a fim de que eu pudesse me proteger e ajudar quem precisasse de mim.Trago minha adaga comigo desde longas datas. Treinei com ela desde criança e juntando a magia com o treino, me tornei bom nisso. É por isso que não suporto ver ninguém judiando de outra pessoa e tomo qualquer briga como se fosse minha, quando vejo que alguém pretende tirar vantagem de uma pessoa mais fraca. Odeio covardia!
- Você é um homem valente – elogia Sofia.
- Agradeço pelo elogio, cigana, mas permita-me uma correção: não sou valente; sou corajoso. Ás vezes, a maior valentia está em se fazer de frouxo – fala Antonio.
- Por que diz isso? – Questiona Sâmia.
- Se uma briga não me leva a nada. Se não há uma causa nobre e grande que a justifique, eu me faço de medroso e caio fora, ainda que o oponente mangue de mim. Isso é mais corajoso do que partir pra cima. Evitar um conflito é bem mais trabalhoso do que deixa-lo acontecer.
- Você tem coragem, Antonio – retifica Sofia.
- Tenho sim.
- E muita! – diz Pedro com ênfase.
- Nem tanta – brinca Antonio e os outros riem
Sâmia o olha diferente e ele percebe.
Seu Aruanda, querido! Tem presente pra vc lá no meu blog. Passa lá hj, sabado.... bj
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