sábado, 7 de maio de 2011

Sete Ciganos - 71



Num circo, montado na cidade de Feira de Santana, um menino moreno, belo e de olhos encantadores está treinando na corda bamba e sente a mesma coisa. Sorri e vê em alguma estrada os três carros, os cinco ciganos e a velha no acampamento:
- Minha hora se aproxima! – Monologa eufórico.

Próximo à entrada da cidade, nossos amigos veem o acampamento e pela forma que está enfeitado, deduzem que o bando ali está em festa de casamento e resolvem parar para uma visita.
- O negócio aqui está bom! – Diz Antonio.
- Algo me diz que encontraremos Zenaide aqui – intui Sofia.
- Vai ser muito bom! – Exclama Shalom.
Enquanto os cinco vão se aproximando das tendas, vão sendo notados por alguns ciganos que caminham ao seu encontro; mas um homem moreno, barrigudo e sorridente se destaca entre os demais.
- Que Santa Sara abençoe estas tendas e estas famílias! – Brada Pedro.
- E que os bons ventos os tragam ao nosso convívio – diz o gorducho feliz.
Pedro pára diante do cigano. Estende a mão e diz:
- Eu sou Pedro.
- Eu sou Miro. Seja bem-vindo, irmão.
Ambos se abraçam como velhos conhecidos:
- Estes são Shalom, Sofia, Antonio e Sâmia.
Outros ciganos se aproximam e começam a interagir com os visitantes.
- Vamos, se acheguem. Vamos tomar um café – diz Miro.
- Tem gente casando? – Questiona Pedro.
- Minha filha, Safira.
- Mas que bom!
- Faço questão de que fiquem para a festa.
- Nós agradecemos e ficaremos. Trouxemos tendas.
- Isso me fará mais feliz... Mas me surpreende o tamanho do bando de vocês e o fato de não conhecê-los... – Miro pára de andar e se vira para Sofia – Espera aí! Como é mesmo o seu nome, cigana?
- Sofia.
- Minha mãe já me contou algumas historias suas...
- Minha fama corre o mundo.
Todos riem.
Chegam à tenda de Miro e ele os apresenta à esposa, Cybelle, uma cigana loira e simpática, e a outros ciganos que ali estão.
Sentam-se e a mulher vai preparar o café:
 - Mas o que os trazem por estas bandas? – Pergunta-lhes Miro.
- É uma longa história, irmão – responde Sâmia.
- Temos todo o tempo do mundo para ouvirmos sua história.
- Procuramos por uma senhora chamada Zenaide – continua Sâmia.
- Ela sabe que vocês estão à sua procura? – Pergunta Miro comovido.
- Não sabemos – responde Antonio – deve saber.
- É impressionante!
- O que, Miro? – Pergunta Shalom.
- Vocês...
- Nós?! – Shalom fica curioso com a aura enigmática do cigano.
- Sara, vá chamar sua bisa – Miro pede à adolescente loira que está sentada diante dele. Com um lindo sorriso, ela se levanta, mas nem chega a sair da tenda...
- Não precisa. Eu já estou aqui.
Todos olham a presença honorável parada à porta da entrada. Uma velha e imponente cigana olha os visitantes com carinho e emoção:
- Eu sou aquela que vocês procuram. Eu sou Zenaide, a cigana. Sejam mui bien-venidos.
- Gracías, Señora! – Diz Antonio - Muito obrigado!
Sofia se ergue e se dirige à senhora. Parando diante dela, contempla-a com emoção. As duas se olham por alguns instantes:
- Não fique aí parada, menina. Dê-me um abraço – diz Zenaide abrindo os braços.
Sofia se aninha no carinho da velha e ambas trocam um abraço profundo e se emocionam. Depois se afastam, Zenaide segura suas faces carinhosamente com as mãos e olhando nos seus olhos, pergunta:
- Como vão meus amigos de Brejões?
- Da última vez que os vi estavam bem.
- Que bom! Você é mais bela pessoalmente.
- Não tenho palavras para expressar a minha felicidade de estar diante da senhora.
- Não precisamos de palavra. Vejo o fogo dos seus olhos e sinto o ardor da sua alma e do seu corpo. É assim também que me sinto, minha filha.
Abraçam-se mais uma vez e Sofia vai sentar-se. Depois é a vez de Shalom.
A magnitude da cigana o intimida no início. Ele, encabulado, lhe estende a mão. Ela o encara com deboche:
- Não sou nenhuma rainha fresca, cigano. Deixe de cerimônia, que embora já tenha cá minhas rugas e anos, não perderia por nada a oportunidade de abraçar um macho tão guapo. Com todo respeito, Sofia.
- Ele é todo seu, Mamita – Brinca Sofia.
A solenidade que havia se instaurado no grupo se quebra e todos gargalham com o bom-humor de Zenaide. Ela e Shalom se abraçam carinhosamente:
- Eu posso inspirar um pouco de respeito e temor nas pessoas, mas fique tranquilo. Só mordo quando necessário.
- Sua presença é estonteante.
- Somos iguais.
Shalom vai sentar-se e Pedro se dirige à cigana, sorrindo:
- Até as pedras se encontram... – Diz ele, mirando-a.
- Por que nós não haveríamos de nos reencontrar? – Zenaide completa o sentido da frase recebendo o velho amigo com um abraço.
Os demais ficam curiosos, até que o abraço se finda e a senhora esclarece:
- Há muitos anos, eu tinha meus doze e Pedro, dezesseis, vivemos uma paixão, mas estávamos comprometidos já com nossos futuros cônjuges. Depois de tantos anos...
- E de tantas historias, cá estamos outra vez – conclui Pedro.
Pedro se senta, os ciganos fazem piadas sobre os anciãos correrem atrás do tempo perdido e Sâmia se ergue para falar com Zenaide:
- A senhora me lembra uma grande amiga minha.
- Eu sei. A Mãe-de-Santo. Ela sente muito sua falta.
Zenaide a acolhe amorosamente.
- E eu a dela.
- Pelos meus registros, você é uma excelente curandeira.
- Aprendi aqui e ali algumas coisas que me possibilitam ajudar as pessoas.
- Não seja modesta, minha criança. Sei quem você é.
Sâmia vai se sentar e por fim Antonio se levanta e vai ao encontro da senhora, que enche os olhos de lágrimas e o abraça sem nada dizer. Ele se sente aconchegado e tem vontade de jamais sair daquele abraço.
Separam-se, mas ela segura em suas mãos e olha-o nos olhos:
- Como você cresceu, Antonio!
- Não me lembro de termos nos conhecido, mamãe.
- Você era muito pequeno. Para ser mais precisa, um recém-nascido. Foi eu quem lhe trouxe ao mundo. Eu fui a parteira que ajudou sua mãe a te ter.
Antonio fica paralisado diante da cigana. Seus olhos também marejam e ele se joga em seus braços chorando e agradecendo por ela ter-lhe salvado a vida.
- Quanto reencontro, heim! – Fala Miro.
Cybelle chega com o café, Sara observa a tudo comovida e os demais também.

4 comentários:

  1. Seu Aruanda, passando pra dizer que adoro seu espaço viu!!! bjao!

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  2. Ela é linda, não é Mel? Amo todos os meus ciganos, mas Zenaide realmente é fora de série!

    Poetisa Bosso, meu espaço é seu. Adoro partilhá-lo contigo. Tenho andado meio sumido, porque meu irmão não está nada bem. Os tempos estão tensos, mas tudo vai passar. Beijo no coração.

    Jane, meu bem, Beijo no coração.

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