No dia seguinte, Antonio empresta o dinheiro a Flávio e o ensina o exercício de algumas práticas para atrair dinheiro e manter a energia monetária em equilíbrio.
Os ciganos deixam nosso amigo na rua e ele compra um caldeirão de ferro, carvão, sete dados e grãos de alfazema. Os outros ingredientes ele já possui. Chegando em casa, ele se concentra e visualiza a prosperidade voltando para si mesmo. Recorda-se das palavras de Antonio: “Lembre-se que atraímos tudo o que quisermos; basta sentir ou pensar, que criamos um campo magnético poderoso que atrairá exatamente o que temos na mente e no coração. Focalize sua energia, Flávio. Concentre-se no sucesso, em todos os sentidos”.
Flávio prepara um defumador à base de café, canela, cravo, açúcar e alfazema, faz uma prece contrita para Santa Sara, acende uma vela e incensa toda a casa, sentindo uma profunda alegria dentro de si. Logo após, diante do caldeirão, ele põe sete pedaços de carvão, sete moedas de R$ 1,00 e os dados e coloca isso escondido em seu guarda-roupa, dizendo:
- Sete Lascas de Fogo, Sete Reais, Sete Dados, Sete Chances, Sete Véus da Madona Negra, Sete Cores do Arco-íris, Sete Caminhos de Luz. E multiplico tudo isso por Sete, por Setenta, por Setecentos, por Sete Mil, pelo Infinito para que meu bolso nunca fique vazio e meu cofre sempre transborde. Assim seja! Assim será!
Flávio se arrepia, fica tonto e se joga na cama. Adormece e sonha com os ciganos, com Zenaide lhe ensinado regras da vida, vê-se rico e numa situação estranha com a doutora Kátia: ele está passando em sua camionete e pára ao vê-la andando de branco com uma mochila:
- Para onde vai, doutora? – Ele pergunta sorrindo e ela lhe retribui o riso.
- Vou para a rodoviária. Tem um congresso em Salvador e meu carro quebrou. Não consegui o de ninguém emprestado.
- Hoje é seu dia de sorte. Estou indo para lá também. Vou comprar mercadorias. Quer uma carona?
- É claro que quero.
Kátia entra no carro e os dois se vão.
No dia seguinte, Flávio passa na casa de um homem que pinta faixas e faz uma encomenda, e compra tintas e pincéis; volta à mercearia, que está fechada há dois meses, abre suas portas e começa a limpá-la.
- Vou dar a volta por cima.
Flávio pinta o estabelecimento de trabalho, deixando-o com um aspecto bem melhor.
À tardinha, vai visitar os ciganos e fica feliz ao ver Kátia conversando com Zenaide e se lembra do sonho, mas prefere não contar:
- Então a doutora também está vezeira no acampamento dos ciganos? – Ele brinca.
- E pelo que vejo, não sou só eu – diz ela.
Eles se cumprimentam. Depois ele e Zenaide se abraçam e ele se senta:
- Como vai, Flávio? – Pergunta Kátia.
- Bem melhor... Depois da tempestade, estou me refazendo... Graças à ajuda dos meus novos amigos e à sua.
- Não fiz nada...
- Aquele aperto de mão que você me deu, no momento em que eu estava desesperado foi um grande conforto.
- Que bom!
- Pintei e limpei a mercearia, cigana Zenaide. Vou reabri-la!
- É assim que se faz, macho. E com fé em Santa Sara , vai prosperar muito.
- Estou até pensando em reabrir com um nome novo.
- Qual, meu filho?
- Mercearia Santa Sara.
- Sugestivo! – brinca a cigana – Acho muito oportuno.
- Tô gostando de ver! – Fala a médica.
- Cheguei tão intempestivo... Atrapalhei alguma coisa?
- Não, já tínhamos concluído. Vim trocar umas idéias com Dona Zenaide, a conversa ficou ótima e ela até botou cartas para mim e leu minha mão.
- Muitas coisas boas?
- Sim, mas é segredo, só que já estava de saída.
Ela se despede carinhosamente dos dois, paga à cigana, e se vai.
- É um amor de pessoa! – Exclama Flávio, sonhador.
- É, sim.
Zenaide o observa desconfiada e sorri.
- Onde estão os outros?
- Foram dar um passeio em São Felix com Miro. Já devem estar chegando.
Regressando à sua casa, Kátia lembra das palavras da cigana lendo sua sorte:
“Vejo uma estrada bonita e aberta no campo profissional. Você fará muito sucesso e terá muito dinheiro, mas no amor, vejo que houve muita dor no passado e você se fechou para isso”.
“É verdade...Tive duas decepções terríveis. Não quero passar por isso de novo”.
“Mas tem um homem no seu destino. É um homem bom, diferente dos que não foram gentis com você”.
“Não acredito nos homens, cigana. Todos são iguais.”
“São não. Esse tem também as marcas da rejeição e da traição. Já sentiu na pele e sabe o que é bom e o que não é para si e para seu próximo. O destino os unirá num momento inusitado. Através de um revés, o Universo lhes dará a chance de curarem suas dores através do amor”.
“Isso me assusta!”
“Por quê?”
“Há alguns anos me apaixonei por um colega. Fizemos faculdade juntos e eu me entreguei de corpo e alma a essa paixão. Embora ele não tenha sido meu primeiro namorado, com ele tive minha primeira relação. Eu o amava tanto e era tão ingênua, que imaginava que seria para toda vida, que seriamos marido e mulher, que teríamos filhos, enfim, construiríamos uma vida... Ele e minha melhor amiga me traíram”.
“Sacanagem!”
“Braba! Depois de formada, me envolvi com outro cara. Lindo, gostoso, inteligente...Já estava prestes a casar quando descobri, que ele tinha mulher e um filho. Depois dessa, me fechei. Homem agora, só para curtir e descartar”.
“Isso vai mudar, Kátia”.
“Vamos ver...”
No outro dia, uma faixa aparece na antiga “Mercearia Flávio e Marta” com a seguinte frase:
EM BREVE, MERCEARIA SANTA SARA!!!
UM NOVO CONCEITO DE ECONOMIA E QUALIDADE.
Flávio entra em contato com alguns fornecedores, faz encomendas e planeja viajar a Salvador amanhã a fim de comprar algumas mercadorias no Atacadão.
Amanhece.
Ele já tomou o desjejum e sai na sua camionete para fazer a viagem. Está bem disposto e sorridente, até que vê uma pessoa saindo de casa! É Kátia! Está vestida de branco e com uma mochila nas costas!Deja vu!
Ele pára o carro e sem perceber, fala:
- Para onde vai, doutora? – Ele pergunta sorrindo e ela lhe retribui o riso.
- Vou para a rodoviária. Tem um congresso em Salvador e meu carro quebrou. Não consegui o de ninguém emprestado.
- Hoje é seu dia de sorte. Estou indo para lá também. Vou comprar mercadorias. Quer uma carona?
- É claro que quero.
Kátia entra no carro e os dois se vão.
Flávio fica impressionado com o fato de ter sonhado exatamente com essa cena e comenta, fazendo-se de desentendido:
- Engraçado! Sinto como se isso já tivesse acontecido antes...
- Tenho a mesma impressão, Flávio... E como se eu tivesse sonhado que íamos nos encontrar hoje.
A viagem transcorre em clima de descontração e transparência. Como velhos conhecidos, ambos se expõem, falam de suas vidas, alegrias, experiências diversas e até riem de seus próprios infortúnios. Aos poucos, um encantamento diferente brota no coração de ambos e a necessidade de aprofundarem essa amizade cresce cada vez mais.
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