terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Sete Ciganos - 22



Instantes após, ao cair da tarde, ela vai à casa de Tânia. Sente a temperatura cair e se encanta mais ainda com o lugar.
Chegando lá, é recebida com carinho por ela e Romeu, que está muito calmo e pintando uma paisagem em tela:
- Que bonito, Romeu!
- Sonhei com esta paisagem hoje. Pedi o material de pintura a minha mãe e ela me deu tudo isso de presente e agora estou pintando.
Há mais duas telas em branco, pincéis, tintas acrílicas de variadas cores, lápis, copos plásticos com água e flanelas sobre a mesa da sala.
- Ele já fez algum curso antes?
- Nunca – responde a mãe. – Estou impressionada com isso!
- É tão perfeito! – Exclama Sofia.
- Como podemos explicar isso?
Sofia pega a amiga pelo braço e as duas se encaminham para a cozinha:
- Pessoas que têm o que seu filho tem são especiais. Na verdade são gênios hiper sensíveis que podem se dedicar às artes, às ciências ou a qualquer outro ramo em que realizem coisas fantásticas. Acho que o dom começou a se manifestar. Se ele receber o tratamento adequado, poderá chegar a uma estabilidade emocional e direcionar todo o sentimento e as ideias para a pintura. Seu filho não era um endemoniado; mas um ser diferente e grandioso.
- Você não sabe o quanto isso me alegra, Sofia! Eu lhe sou muito grata por ter aparecido em nossa vida. E você não sabe da maior...
- Que foi?
- O pastor esteve aqui ontem possesso, porque soube do acontecido em que você conseguiu acalmar meu filho.
- As notícias aqui correm!
- Correm sim.
- O que ele falou?
- Que eu não me deixasse levar pelo desespero e partisse para outras fontes de ajuda senão ele e a igreja; que eu não esquecesse todas as bênçãos que recebi de Deus, por estar na igreja, e me mantivesse reverente e incólume.
- Que absurdo!
- Aí me deu um negócio. Subiu-me uma raiva. Vi que ele e a igreja fizeram tantas coisas, ganharam tanto meu dinheiro suado e nunca deixaram meu filho tão bem, por tanto tempo, quanto você. Falei para ele que as bênçãos de Deus em minha vida nada tinham a ver com a igreja dele, mas com meu merecimento. Disse-lhe que estava cansada de tudo aquilo e que ele me deixasse em paz porque quem sabia da minha vida era eu.
- E aí, mulher!?
- Não é que o homem disse que eu estava possuída e começou a fazer uma encenação para exorcizar o suposto demônio que estava em mim.
- E você?
- Segurei a cabeça dele, olhei-o bem nos olhos e disse: “Pastor Rogério, não tem nenhum demônio aqui. Quem lhe fala é Tânia e estou bem consciente. Por favor, tenha a bondade de se retirar e de me esquecer. Não pertenço mais a sua igreja.”
- E ele?
- Ficou sem graça e tentou sair por cima dizendo que o bom pastor não sossegaria até resgatar a ovelha desgarrada e que esperaria a hora em que eu reconhecesse meu equívoco, me arrependesse e voltasse a integrar seu rebanho. Eu lhe agradeci pela “generosidade”, a fim de encurtar conversa e ele se foi.
- Aonde chego, causo bagunça. Estive em Brejões ultimamente e uma freira criou caso comigo. Mais um para minha coleção – elas riem.
- Você é uma mulher livre, Sofia. E a liberdade assusta. Sua liberdade incomoda muita gente, especialmente pessoas que se prendem e gostam de botar cabresto nas outras.
- Embora isso muitas vezes me faça pagar um preço muito alto, não me arrependo, Tânia, de ser quem eu sou.
- Você é muito linda!
- Você também é. E está mais agora que deu esse grito de independência.
Tânia cora.
- Teve notícias do cigano?
- Ah! Nem te contei. Almocei com ele hoje?
- Que bom! E aí?
- Era ele mesmo quem eu estava procurando. Foi muito bom!
- Fico feliz por você, cigana. Engraçado que nos conhecemos há tão pouco tempo e é como se fôssemos velhas amigas!
- Pode ser que tenhamos nos encontrado em outras vidas.
- Você realmente acredita nisso?
- Sim.
- Para mim é difícil...
- Ainda.
- É... Quem sabe com o tempo. Que você vai fazer amanhã?
- Preciso voltar a Brejões para honrar um compromisso.
- Oh, que pena!
- Por quê?
- Amanhã vamos a Salvador. Fiz uma costura pra fora e consegui um bom dinheiro. Uma amiga marcou uma consulta com um psiquiatra conhecido dela e vou levar Romeu. Queria que você fosse conosco...
- Que ótimo! Mas infelizmente não vai dar, porque tenho essa missão para cumprir. O tempo urge.
- Compreendo. Será que vai dar tudo certo lá em Salvador?
- Vai. Pense positivo.
Tânia aperta carinhosamente a mão de Sofia e a beija:
- Deus te abençoe, cigana.
- A você também, Tânia.

3 comentários:

  1. Gosto da cumplicidade que nasceu entre Sofia e Tãnia!

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  2. Tudo que é real e colorido é bonito né...

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  3. Também gosto disso, Diana.
    Concordo, Catita! E vem mais arte por aí.

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