terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Sete Ciganos - 25



- Por que reagiu daquela forma quando falei sobre casar de novo?
- Perdoe-me se fui grosseiro.
- Tem medo de se apaixonar de novo?
- Tenho.
- E então foge de uma relação mais profunda , estando com várias mulheres?
- É isso mesmo. Sofri muito quando Laura me deixou.
- Feridas podem ser fechadas, cigano.
- Será?
- Sim. Basta a gente querer.
Horas depois os dois chegam ao destino.
- Que bom estar de volta! – Exclama Sofia.
- Aqui é bonito!
Seguindo as orientações da cigana, Shalom dirige-se à casa de Gilberto.
- É aquela ali – Sofia aponta para a moradia azul.
O cigano pára em frente à habitação e a contempla:
- É uma boa casa!
- Vamos?
- Vamos.
Ambos saltam do carro e Sofia toca a sirene. Logo a porta é aberta: é o padre.
Gilberto abre um sorriso quando a vê e olha o pai, emocionado. Abraça-a forte e sente-lhe o perfume:
- Você cumpriu!
- Só não sabia que seria tão rápido.
Eles se separam:
- Gilberto, esse é seu pai, Shalom Carín, o cigano. Shalom, este é seu filho, padre Gilberto.
Os dois se olham sem jeito, emocionados, encabulados. Não sabem o que fazer:
- Quando te vi pela última vez, você era tão pequeno... – fala Shalom com a voz embargada.
Gilberto se surpreende com a semelhança entre os dois e fica completamente mudo e maravilhado. Aproxima-se do pai e aperta-lhe a mão. Depois pousa a mão no ombro dele:
- Melhor entrarmos.
Ele conduz os visitantes e vão para uma varanda que vai dar no quintal. Lá há uma mulher de mais ou menos 30 anos:
- Leda, este é Shalom Carín, meu pai e Sofia, minha amiga.
- Vixe, padre! O senhor é muito parecido com ele! Muito prazer, seu Carinho – todos riem – A cigana eu já conhecia de vista. Muito prazer!
- Prazer o meu, Leda – diz Shalom.
- E meu também – fala Sofia.
- Leda toma conta de mim e da casa. Vamos nos sentar, para ficarmos mais à vontade. Aceitam um café?
Os dois concordam.
- É pra já – diz Leda, correndo para a cozinha.
- Ela é ótima! – Gilberto a elogia.
- Como o encontrou, Sofia?
- Quem tem boca vai a qualquer lugar e acha o que quer.
Pai e filho se olham:
- Nunca imaginei que fosse lhe encontrar de novo – diz Gilberto.
- Quando sua mãe foi embora, ainda pensei em roubar você – eles riem – mas estava tão magoado, que o tempo passou e quando tive novamente em Santa Inês, ela já havia casado com o primo. Aí decidi fingir que não tive mulher e um filho.
- É estranho... Depois de tanto tempo, estarmos um diante do outro agora. Os anos passaram e não sabemos nada um do outro.
- É verdade! Não o vi crescer... Você ainda era de colo e agora é um homem.
Sofia observa os dois atentamente.
- Eu deveria ter me aproximado de você, Gilberto, mas meu orgulho ferido foi maior. Perdoe-me.
- Não há de que se culpar, p... Shalom. Ninguém teve culpa de nada. A vida é assim.
- Você tem álbuns de sua infância, adolescência, juventude?...
- Tenho.
- Posso ver suas fotos? Pelo menos conhecerei um pouco mais da sua vida através do que ficou retratado.
- Você não casou de novo? Tem filhos?
- Não. Embora eu nunca mais tenha me firmado com mulher alguma, sei que não tive outros filhos.
- Até quando vai ficar assim? Tudo passa, cigano. A vida se renova a cada instante.
- O que sabe você do amor, meu filho? Você é um padre...
- Sou um homem, Sha... , meu pai, antes de qualquer coisa sou um homem. Vivi e vivo minhas paixões sem culpa nem vergonha. É bem verdade que nunca fui abandonado como você foi, mas tenho minhas dores. Não sou nenhum santo e Sofia bem sabe disso.
Shalom e Gilberto olham para Sofia. Ela sorri.
- Por que não larga essa batina e se casa com ela? – O pai indaga ao filho.
Olhando para a cigana, ele responde:
- Essa mulher é uma Deusa, mas eu tenho uma missão que não posso deixar agora. Isso nada tem a ver com celibato. Tenho uma verdade interna que está além de toda essa baboseira do Vaticano, mas ainda não chegou a hora de eu seguir outro destino.
- Você gosta dele? – Shalom pergunta a Sofia.
- Gosto – ela responde – mas sei que o que ele disse é a pura verdade. Não seríamos felizes juntos.
- Vocês são engraçados! – Diz Shalom num tom cômico e os três riem.
Leda chega com o café, biscoitos e torradas, serve aos três, pede licença e sai.
- Disse a Jove, Eulália, Margarida e Orlando que vou levá-los na casa dos velhos hoje, para eles te reverem, Sofia, e te conhecerem, Shalom... É difícil! Às vezes quero lhe chamar de pai, outras, pelo seu nome...
- Chame-me como quiser. Isso é irrelevante diante do fato de sermos o que somos: pai e filho, ciganos.
- Além de toda força que há nesse reencontro de vocês e no meu encontro com seu pai, Gilberto, ele é um dos ciganos que sempre apareceu em meus sonhos.
- Que coincidência!
- Para nós não existe coincidência, filho. Tudo está intimamente ligado numa teia perfeita e muito lógica.

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