quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Sete Ciganos - 41


Pedro sai do veículo aturdido e vai ao encontro da mulher que está chorando no chão, enquanto outras pessoas se aproximam:

- Mas você é louca, criatura?! – Esbraveja o cigano – Quer morrer, morra, mas não venha me complicar, não. Que diabo é isso?

A mulher morena chora e se maldiz:

- Ô meu Deus, nem pra morrer eu tenho sucesso.

Pedro se compadece da desgraçada. Sofia e Shalom se aproximam e o velho, se refazendo do choque, se curva para ajudá-la:

- Não chore, minha criança! Por que uma moça tão bonita se atira assim diante do carro de um cigano velho querendo morrer. O que passa na sua cabeça, menina? Se machucou muito?

Ela tem ferimentos leves nos joelhos e no braço esquerdo.

- Isso é mal de amor, cigano – fala uma senhora que se aproxima de cena para observar. – O marido largou ela da noite pro dia e ela ficou assim amalucada. Aí quis se matar, a coitada. Isso é falta de Deus!

Ignorando os julgamentos da senhora, mas ficando com a primeira parte da informação, Pedro segura a moça e pergunta-lhe:

- Pode se levantar?

- Acho que sim.

Ele a ampara e ela se ergue com a ajuda também de Shalom.

- Tragam água para ela – pede Sofia e a senhora que falava com Pedro há pouco manda um menino buscar água.

- Bom que não foi nada de grave – diz a senhora – Deus lhe deu uma chance, Olga, se você não teve sucesso nessa besteira, aproveite, minha filha, esqueça Timóteo, refaça sua vida e vá ser feliz com outro.

Olga se desespera chorando. O menino lhe traz água e ela bebe afoita.

- Me perdoe, senhor! – Ela fala com Pedro – Eu estava desesperada, não sabia o que fazer e quando vi seu carro se aproximando, só me veio a vontade de me atirar na frente pra morrer.

- Ninguém merece seu sofrimento, minha criança – diz-lhe Pedro, consolando-a. – Acho bom irmos ao hospital, tirarmos umas radiografias para vermos se está tudo bem mesmo.

- Eu não tive nada, só esses arranhões – fala Olga.

- Menina, você não cruzou em minha rota por acaso – diz Pedro. – Eu estava de viagem agora e nosso encontro foi um sinal de que eu devo mudar meus planos e te ajudar. Você se atirou na frente do meu carro procurando a morte. Eu lhe ofereço a vida e aí o que me diz?

- Não sei o que dizer.

- Então me deixe te ajudar e não conteste minhas iniciativas. É o mínimo que você pode fazer para compensar o susto que me deu.

- Aceita a ajuda dele, besta – recomenda a velha,

- Está bem, aceito.

- Menina inteligente! – Fala Pedro abraçando-a – Shalom, Sofia, sigam-me. Vamos ao hospital levar esse anjo de Bel-Karrano.

- Vemos – Shalom e Sofia concordam.

Pedro abre a porta do carro para a moça entrar. Ela o faz, se ajeita e em seguida, ele fecha a porta e dá a volta, sentando-se ao seu lado e dano a partida. Shalom e Sofia entram no outro carro e ambos vão em direção ao hospital, que fica na Avenida Luís Argolo.

- Amassei a frente do seu carro... Me diga depois quanto será o conserto que eu me viro para pagar.

- Não se preocupe com isso. Foi uma bobagem, mas me diga, por que fez aquilo?

- Meu marido me deixou.

- Por outra?

- Sim, mas sinto que ele está dominado por algum tipo de feitiço. Num dia ele era um; no outro, acordou completamente mudado, dizendo que não dava mais e que ia procurar Nide, que é a mulher da vida dele.

- Quem é Nide?

- Ela é caixa da farmácia, colega dele. A vagabunda sempre deu em cima dele e me disseram que ela estava recorrendo à magia sombria para conquistar meu Timóteo. Se ele estivesse em si e me deixasse para viver com outra, por vontade própria, eu ficaria arrasada, mas me conformaria... Só que eu sei que ele não está normal e que ela vai destruí-lo.

- O que te dá tanta certeza, Olga?

- Sou mulher, cigano, e sei.

- Eu posso te ajudar.

- Como?

- Estudei um pouco de magia.

- Como se chama?

- Pedro, às suas ordens.

Os ciganos levam a moça à emergência do hospital e enquanto ela é atendida e submetida e exames, eles conversam:

- Teremos que adiar nossa viagem, Sofia – comunica-lhe Pedro.

- Sei disso, Pedro. Estamos com você.

- Tenho que investigar o que está acontecendo para podermos ajudá-la.

- Conte conosco, Irmão.

Olga recebe alta e está bem. Os ciganos a levam para casa e ela os convida para um café. Eles se acomodam à mesa:

- Vocês têm filhos, Olga? – Questiona Sofia.

- Não, Sofia. Estávamos casados só há dois anos e planejávamos engravidar ano que vem.

- Preciso de uma roupa usada dele e uma bacia com água – anuncia Pedro intempestivamente.

- As meias que ele usou antes de ir embora continuam aqui e eu não lavei.

- Logo meias? – Brinca o cigano – Têm chulé?

O casal ri e Olga se descontrai também.

- Só para descontrair, menina, se não a vida se torna mais chata do que já é – Pedro se explica. – Pegue por favor uma meia apenas e uma bacia com água.

Olga vai fazer o que foi pedido. Pedro tira os sapatos, a volta de ouro que usa no pescoço, o relógio e os anéis:

- A água por si só já um condutor excelente. Não preciso dos metais.

Olga chega com uma meia e a bacia com água e coloca-as na mesa, em frente ao cigano:

- Quero que vocês se deem as mãos e rezem em silêncio o que vier à mente. Só pararão de orar, quando eu mandar, entendido?

- Sim – os três respondem, dão-se as mãos e iniciam suas orações.

Pedro respira fundo, segura a meia de Timóteo com a mão esquerda e sente um calafrio. Coloca a direita na água e concentra-se no líquido.

Em alguns instantes a água começa a vibrar e o cigano começa a ver...

Uma moça loira vai a um feiticeiro efeminado e cabeludo. Ela é Nide e o homem se chama Márcio e tem grande poder e comprometimento com magia trevosa. Ela lhe diz:

“Eu amo um homem e ele só tem olhos para a mulher dele. Quero conquistar esse cabra mesmo que não seja da vontade dele ficar comigo, e que ele tenha olhos só para mim. Sou louca por ele. Faço qualquer coisa para tê-lo comigo.”

“Qualquer coisa mesmo?” – Pergunta o bruxo cheio de malícia.

“Qualquer coisa!”

“Mulher corajosa, mas olha só, meu bem, cobro caro e o pagamento tem que ser adiantado. Sucesso garantido. É só me pagar, faço o feitiço e com 24 horas o bofe será seu.”

“Quanto?”

“R$ 2.000,00”

“Mais é muito...”

“É pegar ou largar.”

“Certo! Vou ver o que posso fazer e depois volto aqui.”

“Mas só volte, queridinha, com o dinheiro. Isso aqui tem nada a ver com caridade.”

“Eu sei.”

Surge outro flash em que Nide consegue uma parte do dinheiro num empréstimo bancário e outra com um agiota. Feito isso, ela retorna a Márcio:

“Aqui está o dinheiro.” – Ela passa a quantia para ele, que a conta excitado, depois beija o montante e o guarda numa gaveta:

“Gosto de gente como você. Sem nhem-nhem-nhem. Mulher decidida que vai à luta pelo que quer. Vamos agora ao que interessa.”

O feiticeiro conduz a mulher a uma sala pintada de vermelho. Há velas pretas em prateleiras, símbolos de magia, um mau-cheiro que causa náusea em Nide. Por um momento ela pensa em recuar, mas já chegara até ali. Não ia dar para trás.

“Tire a roupa, Nide. Quero você completamente nua.”

Constrangida, ela se despe e põe a roupa numa cadeira.

O mago faz uma série de invocações, depois tem um forte tremor no corpo e é possuído por uma entidade sombria. Ele sai e volta com um alguidar cheio de sangue e o bebe. Gargalha e a mulher também.

Ele sai novamente e volta com um enorme sapo nas mãos:

“Mulher, segure esse sapo com a mão direita e passe por baixo do sue ventre cinco vezes, repetindo comigo: Sapo, sapinho...”

Ela faz o que foi ordenado.

“Assim como te passo por debaixo de meu sexo, assim Timóteo não tenha sossego nem descanso enquanto para mim não se virar com todo coração, corpo, alma e vida.”

Logo após concluir essa parte do ritual, com a ajuda da entidade que estava com o mago, ela costura os olhos do sapo.

“Agora diga, Mulher... – Manda a entidade – Sapo, eu, Josenildes... Pelo poder das Trevas, cosi os teus olhos, o que devia fazer a Timóteo para que ele não sossegue nem descanse em parte alguma do mundo sem a minha companhia e ande cego para todas as mulheres. Só veja a mim e que seu pensamento só seja a meu respeito.”

Depois a Entidade pegou o sapo e deitou-o numa panela grande.

“Continue repetindo comigo, mulher... Timóteo, aqui estás preso e amarrado sem que vejas o sol ou a lua, enquanto não me amares. Daqui não te soltarei; aqui estás preso e atado como está este sapo.”

Em seguida, a entidade diz para ela:

“Mulher, em vinte e quatro horas esse homem estará lhe amando. Quando tiver a confirmação, volte aqui para descosturar os olhos do sapo e libertá-lo. Só então poderá se deitar com ele e mantê-lo como seu servo até o fim da sua vida.”

Pedro vê Timóteo deixando a casa, declarando-se a Nide. Vê depois ela indo libertar o sapo...

2 comentários:

  1. Comovente o altruísmo dos ciganos!
    Estou impressionada com os seus conhecimentos de magia, Aruanda. Além de escritor, suspeito que seja um Bruxo...

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  2. Não passo de um estudioso, querida, e tenho uma imaginação bem fértil.

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