terça-feira, 26 de abril de 2011

Quando a morte ronda II




Tenho uma tendência obsessiva por sequências – ora sou um romancista – e meu post “Quando a morte ronda” não poderia deixar de ter uma continuação, já que não creio em conclusões definitivas. Amo o final da delicada película “A Excêntrica Família de Antonia” quando a narradora finaliza a história dizendo que “nada se conclui”. Pois bem, deixemos de delongas e falemos mais uma vez sobre um dos meus temas prediletos: A Morte.

Tenho uma relação muito íntima com ela – sempre tive – por me sentir um tanto inadaptado à vida terrena (Banzo Existencial). Quiçá eu tenha até sido em outra vida algum poeta da segunda geração do Romantismo, incapaz de encarar a vida real e desesperado para fugir dela através do beijo da Dama da Foice... - Nada pretensioso da minha parte (risos) – o fato é que a morte me atrai e não vejo nada de funesto nisso. Em meio a essa vida sem bússola, porque “Viver não é preciso” enquanto “Navegar” o é, morrer é o que há de mais concreto e quem for maluco(a) me prove o contrário.

Quero falar agora de Celeste – mais outra pessoa bonita chegada a mim que achou de dar o zig. - E aproveitando, falarei também de amizade, fidelidade e outras coisas que me fazem encher os olhos desse liquido familiar que jorra toda vez que a gente sente. Tô mexido!... Lembro-me de Celeste (Tia Cel) debruçada na janela, sua Torre de Observação, atenta a tudo. A destemida Vênus! Sob seu olhar vigilante, eu, Mel (seu afilhado, filho e um dos meus melhores cúmplices), Paty (também uma das minhas melhores cúmplices) vivíamos nossos delírios musicais, sexuais e psicodélicos. Ela jamais nos reprimiu, mas nos vigiava para que nada de chato nos acontecesse. Sua comida também era deliciosa (como a do meu amigo Dão que também deu o zig há pouco tempo) e ela sempre nos recebia com caldeirões de feijão, saladas suntuosas, postas de carne suculentas, arroz bonito e etc – põe etc nisso!!! – Tia Cel nos protegia no seu amor rigoroso ou rigor amoroso e sua presença enchia qualquer canto, sua risada afastava meus pensamentos sorumbáticos e seu olhar... Era mágico sim.

Tia Cel deu o zig. Foi fazer comida gostosa em outra dimensão com Dão. E Lice deve estar se deliciando com eles. (Vide “Quando a morte ronda” neste blog). E o que me move a escrever isso agora não se trata de uma discussão profunda sobre o falecer, mas sobre o efeito positivo que isso traz em nossas vidas – nós que ainda não demos o zig.

Eu, Mel e Paty estamos unidos há muitos anos. Somos amigos. Somos irmãos. Somos uns pelos outros. Entre nós cabe todo tipo de esculhambação, desonra, grosseria e sacanagem, mas ai de quem fora desse trio ousar tocar um dedo em um de nós... – Virará estátua de sal, meu bem – Porque também nos amamos desesperadamente e o tempo só fortalece nossos laços e o poder da amizade que criamos. Nossas almas são casadas e indivorciáveis. Quando soubemos da partida de Tia Cel, eu e Paty deixamos tudo o que havíamos programado para o dia 25 de abril de 2011 e focamos toda a nossa energia no sentido de irmos ficar ao lado do nosso Mel. Ele nos ligou. Sabia que podia contar conosco. Os três sabemos que a recíproca é real.

Alteramos planos, cruzamos o mar, vencemos o asfalto e aportamos em nosso Berço (não sei se será minha sepultura), Nazaré das Farinhas. Juntamo-nos ao nosso irmão choroso e sofremos com ele, e apesar da tristeza que pairava, senti-me estranhamente feliz e rico por ter essas duas pessoas em minha vida. Senti-me privilegiado por saber que quando chegar minha hora de prantear, tê-los-ei comigo. Senti-me inteiro por ter amigos que cresceram comigo e comigo ainda partilham suas dores e prazeres. Não sei se modificaria todas as metas daquele dia se fosse por uma festa. A Morte tem esse dom e será também uma comemoração quando tivermos coragem de encará-la como ela é de fato – Viagem, Passagem, Dar o zig... – Quando soubermos desvincular o amor do apego excessivo. Tino, companheiro do meu amigo, também estava conosco sofrendo junto e outros amigos também optaram por esse momento de fidelidade e solidariedade.

Tia Cel deu o zig. A Morte rondando gentilmente e a gente junto na alegria e na tristeza, na saúde e na doença... O mais engraçado é que essa Dama, apesar do poder que tem, é incapaz de separar quem realmente se ama... E como não existem coincidências, os corpos que abrigaram respectivamente as almas de Dão e Tia Cel repousam em túmulos bem próximos, na mesma ala da Mansão mais suntuosa de Nazaré das Farinhas... Até outra ronda!


8 comentários:

  1. Estarei com vcs em tds os momentos.
    (Se Tia Cel encontrar com Dão, para juntos cozinharem, ele vai recomendar-lhe uma dieta e ela vai querer entupí-lo de feijão!!! rsrsrsrs)
    Amo vc(s)!

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  2. Amo vocês! Vou ver se barganho com o pessoal lá de cima pra fazer uma projeção astral e presenciar este encontro gastronômico e nada diet.(risos).

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  3. Bate forte o tambor... eu quero tic tic tic tic tahh....

    Saudades!!!! bjsss

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  4. Bate mesmo, Poetisa Bosso. Beijo no coração - tic tic tic tic tahh!

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  5. Nossa, meu primo!!
    Quase que choreii!! ahsuashua
    Sua forma de escrever faz com que
    agente grude os olhos no texto
    e ele passe muito depressa.

    ashaushau gostei do "zig" ashuasha

    e essa parte aqui: "Não sei se modificaria todas as metas daquele dia se fosse por uma festa"

    Tensoo!! muito lindo!

    Parabéns Tone!!!! abraçooo

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  6. Te amo, Du. Somos feitos da mesma argila.

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