Faltando alguns minutos para as duas horas, os ciganos se despedem da Sacerdotisa e vão para a casa de Sâmia, a fim de se prepararem para mais uma tarde de atendimentos.
Só nessa tarde, seu Domingos consegue arranjar os itens que comporão sua garrafada e os leva à casa da cigana. Dessa vez, Sâmia convida Shalom para atender com ela, enquanto Sofia prepara o remédio do cliente e Pedro resolve visitar os amigos ciganos instalados num acampamento, na cidade.
A loira e o amigo atendem uma senhora morena e gorda que se queixa de dores no pé esquerdo:
- Ai, dona Sâmia! Acho que quebrou!
- Que aconteceu, dona Lúcia?
- Fui descer um batente ali na rua e imaginei que fosse menor... Aí desci de vez e foi uma dor triste... Cheguei a chorar... Olhe como está inchado!
- Deixa eu dar uma olhada – diz a cigana, levantando-se e aproximando mais da cliente.
Ela examina cuidadosamente o pé da senhora, faz alguns toques e fala com segurança:
- Quebrou não. Só torceu.
- Ai, graças a Deus!
- Muitas vezes, a depender da gravidade da torção, seria preferível que tivesse quebrado.
- Ai, meu Deus!
- Mas se preocupe não, Dona Lúcia. Logo a senhora vai ficar bem.
- Deus te ouça, cigana.
- Amém!
Sâmia manda Dona Lúcia colocar o pé sobre um banco. Pega um pedaço de linha branca virgem, enfia numa agulha e faz uma cruz com esta em torno da área inflamada:
- Que é que eu coso, Dona Lúcia?
- Pé torcido.
- Nervo torto, osso desconjuntado, tornozelo gotoso, pé torcido, tudo isso eu benzo, tudo isso eu coso.
A consulente começa a sentir o pé a formigar.
Sâmia repete a benzedura três vezes e depois de alguns instantes, pede a Shalom que enfaixe o pé torcido. Ele o faz.
- A dor aliviou – diz Lúcia.
- Tome um pouco dessa solução de arnica quatro vezes ao dia, que a coisa vai melhorar – fala Sâmia, entregando um frasco à cliente. – Amanhã retire a atadura e coloque mastruço. No outro dia, a senhora já vai acordar jogando capoeira.
Os três riem.
- Obrigada, mais uma vez, Dona Sâmia – diz a cliente, pagando à curandeira.
A próxima cliente é uma jovem mãe que entra carregando sua criança de colo. O bebê chora sem parar e a mãe está aflita:
- Ô cigana, o que é que esse menino tem?! Ele não pára de chorar.
- Deixe-me ver - Sâmia pega a criança com carinho – O que você tem, neném? Quer me ajudar, Shalom?
- Claro.
Shalom se ergue e recebe o pequeno ser no colo. Acaricia sua cabecinha e toca em sua fronte. Fecha os olhos e se concentra por alguns instantes:
- Esse menino está com dor no estômago – fala o cigano. – Que lua é hoje, Sâmia?
- Minguante.
- Ótimo. Dê-me uma vela branca.
O cigano manda a mãe acender a vela e chama as duas para o lado de fora, levando o menino. Chegando ao quintal, ele o despe e pede para a mãe segurá-lo, com a barriga virada para o céu.
Shalom faz o sinal da cruz, com o dedo indicador e o médio, na barriga do bebê e diz:
- Lua, luar, leve a dor de barriga desta criança e ajuda essa mãe a criá-la. Lua, luar, extingue a dor que incomoda essa criança e que ela durma tranqüila e fique sã.
Shalom sopra na barriga do menino e ele se arrepia. Aos poucos, a criança se acalma e adormece no colo da mãe. Vestem-lhe as roupas, a moça agradece e dá sua contribuição.
Chegando à porta da casa da cigana, ela conta impressionada o que aconteceu para o marido que a esperava no carro.
- Você é um homem que sabe das coisas, Shalom – elogia Sâmia.
- Não é à toa que viemos do mesmo lugar, irmã.
À tardinha, Pedro chega com ar cansado.
- Que aconteceu, Pedro? – Pergunta Sofia.
Ele afunda na poltrona e suspira:
- Uma cigana velha lá do acampamento morreu e o enterro vai ser amanhã. O pessoal ficou triste. Era uma mulher de conhecimento e muito honrada.
- Eles são Calon?
- Não. São Rom. São turcos.
- Que horas será o enterro? – Indaga Sâmia.
- Às nove da manhã.
- Iremos todos – determina Sofia e todos concordam.
Agora sim comecei a ler...rsrsrsrs gostei muito meu irmão...
ResponderExcluirEmocionada a cada atendimento! Que história linda, Aruanda!
ResponderExcluirGratos, meus queridos. Façam boa viagem com nossos amigos.
ResponderExcluir