domingo, 25 de novembro de 2012

A Pequena Grande Alcione

Minha última postagem versava sobre a inusitada experiência de haver encontrado três honoráveis gatinhos recém-nascidos e abandonados no lixo e tê-los encaminhado para nossa morada (O Paraíso dos Gatos) a fim de que eles tivessem mais carinho e cuidado, posto que havia uma gata-mãe que ainda amamentava seus filhotes e segundo minha eterna ilusão, por força da maternidade, ela também acolheria os pequerruchos. Ledo engano!

Como sou um exímio expositor de minha própria vida, sinto-me comprometido com você, que me lê, em dar sequência a essa História de Amor. Sigamos, pois... Leon e Lorena trouxeram os gatinhos para nosso lar e estes foram acolhidos por Franci e Tiago, nossos irmãos, que tentaram sensibilizar Zíngara, a gata-mãe, para que ela os amamentasse também. Só que esta os rejeitou e eles continuaram desesperados por conta do abandono e da fome.

Leon e Lorena retornaram a Salvador para nos lançarmos em aventuras e trabalhos cênicos, enquanto Franci e Tiago assumiram a guarda das crianças e foram a um Pet Shop em busca de soluções. Foi quando ela intuiu a existência de um leite apropriado para filhotes vítimas de uma situação dessas. Na loja de produtos veterinários, ela constatou que o leite, de fato, existia e ainda havia uma chuca específica para bebês que se perdem da mãe. Além disso, uma moça, a quem chamarei de May, soube da história dos bichanos, comoveu-se e pediu um.

No domingo de manhã, um dos três morreu e isso nos abalou, porém prosseguimos nossa jornada, sepultamo-lo com reverência e gratidão, e continuamos a cuidar dos outros dois. Ficamos felizes ao percebermos que eles se deram bem com o leite e que o desespero da fome passara.

Na segunda, dia 19 de novembro, pusemos os nomes nas figuras. O que julgamos ser macho passou a se chamar Orion e a fêmea, Alcione. Em que consistem nossos cuidados: dar a chuca de duas em duas horas aos filhotes, colocá-los nos nossos ombros para que eles arrotem, massagear a região urinária com um pano umedecido em água morna com a finalidade de estimulá-los a urinar (coisa que uma gata-mãe faz naturalmente com a língua), banhá-los com outro pano com água morna quando eles fazem cocô (trabalho que as gatas-mães fazem também com sua língua abençoada até o momento de os filhotes saírem a cagar pelo mundo), mantê-los aquecidos e cobri-los de amor, muito amor. Só que nossa amiga May falou sério ao dizer que adotaria o macho e se predispôs a seguir todas as nossas orientações que compreendiam o cuidado com o felino. À tarde, exercitando o desapego, levamos Órion à Praia do Forte. Seus olhinhos já estavam se abrindo para ver as coisas e os seres e foi assim que ele conheceu sua nova mãe. Sabíamos que Órion ganharia outro nome e que estava em ótimas mãos.

Seguimos amando Alcione e cuidando dela. Uma amiga de May desejou ficar com a gatinha, porém decidimos adotá-la para ser criada junto com os nossos vinte e tantos gatos. Onde comem vinte cinco, comem vinte e seis - simples assim... E nossa filhota foi resistindo bravamente. Sofreu com a ausência do mano, pois ambos se aqueciam quando estavam juntinhos e isso exigiu de nós mais carinho, mais amor, mais cuidado. Eu, Maci, Tiago, Lara, Franci e até nosso amigo Geraldo que se recuperava de um processo doloroso em nossa comunidade, nos rendemos aos encantos dessa "Estrela".

Um fato, porém, nos assustou. Surgiu um caroço cheio de pus na barriguinha dela. De imediato, Tiago levou-a à veterinária, a quem chamarei de Elisa. A doutora foi gente fina: sensibilizou-se com a trajetória da felina andarilha, não cobrou consulta, examinou-a, elogiou os nossos cuidados sobre ela e apontou como causa daquele pequena infecção bactérias do lixo onde os abandonaram. Ela passou Fenergan e Iodo e assim fomos tratando de nossa querida.

Faltando um dia para ela completar sete, já estava parcialmente curada e adquiriu nova força. Seus olhos são lindos e azuis. Passa as manhãs em minha casa e as noites na casa de Lara. Seguimos a ritualística diária dos seus encantos, com alegria e nesse domingo, dia 25/11, enquanto eu a punha a tomar um pouco de sol, minha mãe aproximou-se de nós e disse: "Essa gata tem o dom de gerar amor em tudo e em todos. Posso segurá-la um pouquinho?"

Eu a entreguei a avó, evidente, e agradeci ao Universo por estar vivenciando um momento tão rico. Foi aí que  me dei conta do seguinte fato:  Alcione foi abandonada por alguém insensível e acolhida por várias mães, vários pais, irmãos, enfim uma família. O Universo sempre compensando o que nos falta.

2 comentários:

  1. Você é demais, meu querido!!! Afinal, quem puxa aos seus, não degenera a raça e vindo de um lar de muia luz e amor, só poderia ser quem você é. Aprendeu os ensinamentos dessas criaturas, Zé e Mari, bem direitinho, né? Beijos e tenham todos uma semana iluminada,

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  2. Aprendi sim, minha querida amiga. Assim como vocês que herdaram tesouros incalculáveis dos seus amados Pais. Beijo no coração.

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